quinta-feira, 2 de abril de 2009

A morte do líder democrata


Junto com as nuvens que cobrem o céu nublado, argentinos choram pela morte de seu ex presidente Raúl Alfonsín. Morto nessa última terça (31), o político que marcou o início do processo de redemocratização da Argentina pós ditadura, será enterrado nesta tarde (2), no cemitério da Recoleta.

Alfonsín governou a Argentina entre os anos 1983 a 1989. Foi um período difícil, marcado pelo pós Guerra das Malvinas, julgamento de ex ditadores - responsáveis pelo desaparecimento de mais de 30 mil pessoas, inflação orbitante e instabilidade política. É lembrado entre a população como um guerreiro da democracia e o político menos corrupto até então.

Centenas de condolências vindas de diversas partes do mundo chegam a Buenos Aires. Personalidades ilustres do meio político nacional como Menem, De La Rúa, Duhalde e Kirchner vão dar seu último adeus. Do Brasil, comparacem também na forma carne-osso, nada menos que Sarney e Collor - por coicidência, catástrofes ainda vivas da nossa história política.

Quilômetros de humanos enfileirados, tomam chuva e frio para prestar uma homenagem ao ex líder, deixando o acontecimento mais dramático que um tango. Tamanha mobilização foi vista assim na morte de Juan Perón, em 1974.

Desde o meu quarto, escuto tímidos fogos artificiais estourarem do lado de fora para glorificar o morto. O clima é de tristeza. Não vivi a Argentina "alfonsiana", mas posso compartilhar com os meus irmãos a tristeza de um desejo não cumprido ou sistematizamente adiado: ver uma Argentina orgulhosa e não arrasada, fortalecida e não arrastejante como se sonhou quando os anos negros da ditadura terminaram e quando Alfonsín assumiu a presidência.
O salvador da pátria morreu, deixando milhares de argentinos órfãos, que como ele, acreditou que a história deste país poderia ter sido diferente.

domingo, 29 de março de 2009

O fusquinha bordô e meu momento blasé


A bobeira que vou comentar agora vem de um sentimento inexplicável pela ciência, que faz pessoas cometerem micos terríveis. Por isso estou aqui, falando do amor.
Não importa seu gênero, pode ser ele platônico, correspondido ou não, mazoquista ou irracional. Mas onde quero chegar com tudo isso é ressaltar que todo amor é louco.

A loucura que descreverei é de uma estupidez tão infantil, que dá vergonha de contar. Não é vergonha de expor o que sinto. É timidez por assumir um amor que nem sempre é merecido, porque é meio cafajeste e dispensa o ridículo.

Hoje à tarde, caminhando com o cachorro do Luis (fiz essa construção de propósito, fica engraçada - pois refiro-me ao Sasha, rusky siberiano) vimos um fusquinha bordô. Até aí nada demais. Mas aqui não tem fusca! É raríssimo ver um, ainda mais bordô. Só que a novidade não é essa, o lance é que o carro tinha uma placa de BRA-SÍ-LIAAAAA, com um adesivo da bandeira do Brasil precariamente grudado. Gente, vocês não podem imaginar a minha euforia. É que foi uma surpresa tão irreal, ali na pracinha, onde vou quase todos os dias, onde todas às vezes que caminho só vejo argentinos de cara amarrada, carros argentinos mal estacionados e muitos, muitos cachorros cagando na via pública...e no meio de tudo aquilo o fusquinha bordô com a placa de Brasília, brasileiro!

No ato procurei o dono do artigo. Nada! Dei uma olhadinha pra ver se identificava outra coisa tupiniquim, mas a sorte não era para tanto. Fiquei com essa satisfação estranha de quem se dá por feliz por tão pouca coisa. Estranho mesmo e como comentei antes, um tanto infantil.

O encontro com o carro me fez pensar nas inúmeras besteiras que já vivi e escutei sobre o amor brasileiro. "Outro dia, passendo na frente de uma loja de CD´s, escutei uma música do Só pra Contrariar. Fiquei tão feliz que parei ali do lado de fora e fiquei curtindo a música, molejando a cabeça e os pés. Ninguém entendia, nem mesmo eu que jamais curti pagode, menos ainda o Alexandre Pires. Mas era algo do Brasil, naquela rua agitada depois das quatro, cheio de gente estranha e com pressa. Eu ali, repentinamente me transformando em sorrisos, só por ouvir uma música de um brasileiro". Esquisitices do gênero já fiz muitas vezes. Uma delas foi querer ser amiga de uma desconhecida só porque falava português. E não fiquei mostrando os dentes apenas. Fui em sua direção, perguntar o que fazia ali, se queria tomar um café depois, ingenuidade pura. Brasileiro no exterior é uma bosta, porque a maioria despreza seus compatriotas. Hoje aprendi a lição. Vejo uma brasileira perdida no metrô com suas estampas estravagantes, decotes exagerados e brincos espalhafatosos, lasco meu esteriótipo argentinizado: nariz empinado, olhar indiferente, apressado e de pouca paciência. Se é um brasileiro, ainda posso dar uma ajudinha, hehe.

Mas é assim mesmo, cada gesto, objeto, som que remete à terrinha faz descarregar uma euforia mirabolante, acorda o amor já esquecido. E esse reencontro com o amor antigo é tão gostoso que não importa quem você canta, pois quando o desejo vem é o seu nome que chamo. Brasil, posso até gostar de alguém, mas é você quem eu amo.
Clichê, mas quem disse que o amor não é piegas?